Espinosa, meu éden

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domingo, 2 de março de 2025

3683 - A força perturbadora de Nickel Boys

Nos racistas Estados Unidos da América, por muitos anos imperou a maldita e desumana segregação racial, onde seres humanos de cor negra eram tratados como pessoas de capacidade inferior aos de pele clara, um preconceito e uma discriminação covarde e violenta que só terminou nos anos 60 quando parte da população se revoltou através de protestos que finalmente forçaram os políticos a acabarem com esta barbárie. Sob o corajoso comando de figuras firmes e decididas como Martin Luther King Jr., Rosa Parks e Malcolm X, entre outros, os negros fizeram valer seus direitos e mudaram o panorama de segregação com vitórias expressivas em ações legais e legislativas como a Lei dos Direitos Civis de 1964, a Lei de Direito ao Voto de 1965 e a Lei dos Direitos Civis de 1968. Mudaram as leis, a segregação foi extinta, mas o racismo norte-americano persiste assustadoramente sobre as cabeças do povo negro, com abusos cotidianos ocorrendo em alguns lugares do país que se promove como o solo da Liberdade.



Uma história terrível de segregação racial e tratamento abusivo e violento contra jovens negros está contada no livro "The Nickel Boys", escrito por Colson Whitehead, que venceu o prêmio Pulitzer em 2019. O romance que virou o filme "Nickel Boys" ou "O Reformatório Nickel", com direção de RaMell Ross, conta a história dos jovens afro-americanos Elwood Curtis (Ethan Herisse) e Jack Turner (Brandon Wilson), enviados para internamento em um reformatório para jovens brancos e negros rebeldes, metidos em alguma confusão e com cometimento de pequenos delitos. O local era a Dozier School for Boys na Flórida e o tempo era os anos 60. Era lá que aconteciam os horrores. Fundada em 1900 na cidade de Marianna, no estado norte-americano da Flórida, a escola seria uma academia para a reabilitação de jovens infratores, mas se transformou, até ser fechada no ano de 2011, em um local de terror, tortura e assassinato de jovens rapazes negros e até brancos. Só depois de inúmeras denúncias de abusos cometidos na instituição é que o governo se prontificou a investigar, descobrindo um cemitério clandestino cheio de ossadas de pessoas, algumas ainda não identificadas. Apesar de o governo da Flórida ter feito um pedido formal de desculpas aos familiares dos desaparecidos e aos sobreviventes, até o momento, nenhum funcionário da instituição foi julgado ou condenado pelos seus crimes, o que é um absurdo.



A produção intitulada "Nickel Boys", que concorre hoje aos prêmios de "Melhor Filme" e "Melhor Roteiro Adaptado", foi filmada de uma maneira bastante diferenciada, em primeira pessoa, o que pretende nos colocar diante das atrocidades vistas e sentidas pelos meninos, o que nos causa um sentimento estranho de incômodo e até claustrofobia. Algumas cenas são bem lentas e sombrias, o que nos leva a imaginar quão tão pesados foram os castigos recebidos pelos garotos. Confesso que me senti muito mal, bastante perturbado com o estilo adotado na filmagem e na dureza das imagens que nos levam a imaginar a dor, a violência e a humilhação porque passaram indefesos jovens que deveriam ser protegidos com zelo e afeição pelo Estado. Toda a verdade sobre esta mancha terrível na história dos Estados Unidos só começou a vir à tona no ano de 2009, quando uma investigação foi iniciada e os corpos foram encontrados e desenterrados.



Veja os indicados ao prêmio de "Melhor Filme" no Oscar 2025, dos quais só assisti a quatro: "O Brutalista", "Conclave", "Ainda Estou Aqui" e "Nickel Boys":
"Anora"
"O Brutalista"
"Um Completo Desconhecido"
"Conclave"
"Duna: Parte Dois"
"Emilia Pérez"
"Ainda Estou Aqui"
"Nickel Boys"
"A Substância"
"Wicked"

Elenco de "Nickel Boys":
Ethan Herisse - Elwood Curtis
Ethan Cole Sharp  - o jovem Elwood
Daveed Diggs - o adulto Elwood
Brandon Wilson - Jack Turner
Aunjanue Ellis-Taylor - Hattie, avó de Elwood
Hamish Linklater - Spencer
Fred Hechinger - Harper
Jimmie Fails - Sr. Hill

A temida "White House" ("Casa Branca") do reformatório Arthur G. Dozier,
onde os meninos eram punidos com tortura e maus-tratos

 
Todos os horrores praticados em quaisquer lugares do mundo devem ser investigados e seus executores precisam ser condenados para pagarem por seus crimes hediondos. Nada, por mais terrível que seja, como o brutal Holocausto e os horrores das ditaduras, pode ficar escamoteado. Criminosos, quaisquer que sejam, não devem sofrer torturas, humilhações ou fuzilamentos, mas jamais devem ficar impunes.
O filme está disponível no catálogo da plataforma de streaming Prime Video.   
Um grande abraço espinosense.

  

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