Espinosa, meu éden

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domingo, 6 de novembro de 2016

1617 - Burning Man, uma loucura libertária

Imaginem uma festa implementada em pleno deserto, reunindo milhares de pessoas das mais variadas tribos sociais vestidas (ou não) com as mais resplandecentes roupas, os mais criativos e interessantes carros alegóricos, as mais esdrúxulas e gigantescas obras de arte, muita música, animação e arte, tudo em clima de completa paz e harmonia.
Isto é o "Burning Man", um festival de contracultura que acontece anualmente em uma imensa planície no deserto de Nevada nos Estados Unidos, próxima das cidades de Empire e Gerlach, juntando gente do mundo inteiro em busca de agitação, liberdade e paz.
No meio do deserto quente e poeirento, de repente, do nada, surge uma cidade que recebe cerca de 50 mil habitantes, onde a liberdade é a regra geral, seja na decoração dos carros e das bicicletas, seja na escolha das vestimentas e fantasias ou mesmo circulando sem roupa alguma. As performances individuais e conjuntas estão por todo lado, em tempo integral, o que torna a festa um festival frenético de arte e alegria.



O "Burning Man" foi idealizado pelo agitador cultural Larry Harvey. Em 1986, ele e seu amigo Jerry James criaram uma enorme figura de um homem em madeira, com o intuito de reunir pessoas ao seu redor em performances de arte para celebrar a paz e a liberdade. Ao final, a enorme estátua era queimada, daí o nome "Burning Man" (homem queimando). Pouco mais de 20 pessoas participaram do evento, realizado em Baker’s Beach, em plena cidade de San Francisco. Com a repetição do evento a cada ano, o número de participantes só aumentou, até que a polícia proibiu a sua realização naquele local em 1990. No ano seguinte, Harvey resolveu levar o evento para um lugar distante e solitário, que não incomodasse a ninguém, o deserto de Nevada.
Com o tempo o evento cresceu absurdamente, atraindo mais e mais pessoas tais como artistas, intelectuais, performers, aventureiros, jovens em busca de paz ou badalação, enfim, gente à procura de novas emoções. O festival acontece anualmente próximo ao início do mês de setembro. No evento podem ser vistos os mais excêntricos modelos de carros desfilando pela areia quente em meio às belas e imponentes obras de arte e as mais extravagantes figuras humanas, todas meticulosamente fantasiadas, em um espetáculo sui generis da criatividade humana.




Para participar dessa festa quase inacreditável de tão diferente, é preciso comprar um ingresso que custa perto de 200 dólares e pode ser adquirido através do site oficial do evento, burningman.com. É preciso também muito boa vontade para aguentar o calor insuportável, a poeira constante e a falta de água para banhos. Como lá não se vende nada, é necessário levar tudo que é imprescindível: muita água, comida, gasolina, filtro solar, barraca, saco de dormir, chapéu.
O que impera ali é a liberdade total e a bandeira contra o consumismo, o que mais parece uma grande bagunça, mas na realidade o evento conta com uma organização esmerada, que oferece área definida para os acampamentos e para as atividades, performances e workshops que acontecem durante o festival, além de ampla estrutura que conta com toaletes, pronto-socorro médico e até um aeroporto.  
O local do evento, em formato de semicírculo, é chamado de Playa, onde estão bem distribuídos os espaços para as atividades, acampamentos e instalações. Ali por perto está montado o enorme homem de madeira, de 50 pés de altura, que tradicionalmente será queimado na penúltima noite do festival.    
Não há registro de casos de violência no evento, em que todos tem a completa liberdade de andar como quiserem, a pé ou de bicicleta, nus ou vestidos, usufruindo totalmente da liberdade de expressão. Só não se pode dirigir ou levar seu cachorro pra lá. Toda a estrutura é montada com a ajuda de voluntários oriundos de todos os cantos do mundo.  
Entre as muitas obras de arte integrantes do evento, uma das mais significativas é chamada de "O Templo", onde são reunidas as fotografias, objetos pessoais, mensagens e lembranças de pessoas que já partiram e que são queimadas no encerramento do festival, com a ideia de que, com a fumaça, vão para bem longe o sofrimento e a dor da perda.
O "Burning Man" é um evento surreal e extraordinário. Quem teve a chance de participar de uma de suas edições, certamente terá saído de lá com outra percepção do nosso mundo. A mensagem é simples: podemos conviver em paz e harmonia, quaisquer que sejam as nossas diferenças.
Um grande abraço espinosense.