Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

terça-feira, 8 de março de 2016

1479 - No Dia das Mulheres, uma singela homenagem a mais uma poeta espinosense: Dona Lúcia Tibo

8 de março, dia escolhido para se homenagear as mulheres, tem como base as manifestações de trabalhadoras russas por melhores condições de vida e trabalho no ano de 1917.
Se as mulheres conseguiram avanços deveras importantes de lá para cá, a verdade é que algumas lutas femininas ainda não foram completamente vencidas. O machismo, o preconceito, a violência doméstica, os salários menores que os recebidos pelos homens na mesma função, ainda mancham fragorosamente a história do mundo. E isso tem de mudar rapidamente!

Só para relembrar, de acordo com a ONU - Organização das Nações Unidas, são direitos da mulher:

1) Direito à vida;
2) Direito à liberdade e à segurança pessoal;
3) Direito à igualdade e a estar livre de todas as formas de discriminação;
4) Direito à liberdade de pensamento;
5) Direito à informação e à educação;
6) Direito à privacidade;
7) Direito à saúde e à proteção desta;
8) Direito a construir relacionamento conjugal e a planejar a sua família;
9) Direito a decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los;
10) Direito aos benefícios do progresso científico;
11) Direito à liberdade de reunião e participação política;
12) Direito a não ser submetida a torturas e maltrato.

Para homenagear a todas nossas sensíveis, maravilhosas e batalhadoras mulheres, publico essa postagem sobre uma mãe e avó que extravasa nos versos os seus mais profundos sentimentos de amor e carinho pelos seus rebentos, familiares e à sua terra natal, Dona Lúcia Tibo.
Sintam-se homenageadas, mulheres do mundo inteiro!


As possibilidades disponíveis no mundo tecnológico são infinitas, tanto para o bem como para o mal. Nas suas entranhas pode-se encontrar de tudo, desde as mais belas faces da arte até as mais obscuras criações humanas. Sugiro que você, assim como eu, opte pela face ensolarada e brilhante do mundo virtual e busque a beleza de cativantes fontes de inspiração. E foi assim, através da popular rede social Facebook que descobri o talento poético de Dona Lúcia Tibo, minha ex-professora de Francês no colégio.
Um dia desses, tive acesso a uma de suas poesias e me surpreendi com os seus versos. E assim vieram outras, até que me deparei com esta, que resolvi publicar aqui no nosso blog, mesmo sem pedir-lhe permissão. Seu talento não pode ficar oculto. Espero que ela não fique chateada comigo e que continue a nos brindar com mais criações suas.
Permitam-me contar um pequeno "causo". Não tem nada a ver com o assunto poesia, mas lembrei-me de um episódio marcante que aconteceu comigo quando era seu aluno, ainda bem jovem. Em uma de suas aulas, estava eu, ainda adolescente, escrevendo na madeira da carteira escolar, quando ela me interpelou, reprovando minha atitude. Interessante que eu não tinha esse costume, mas não sei porque, naquele dia eu cometi esse ato impróprio. Explicou-me que isso não era aceitável e que havia em Francês um ditado que dizia que "o nome do doido estava em todo lugar". Fiquei todo sem graça, merecidamente, levei uma reprovação silenciosa dos colegas e nunca mais escrevi nas carteiras da escola. Aprendi a lição! 
O episódio serve para ilustrar a diferença que há entre o ambiente escolar rigoroso daquela época e o atual, em que, infelizmente, ninguém mais respeita os professores, o que é um absurdo total. Agradecimentos e o meu eterno carinho, professora Lúcia Tibo. 
Um grande abraço espinosense.
   
Pintura de Thomas Kinkade
A CASA DOS MEUS SONHOS
A casa dos meus sonhos fica no alto
De uma colina linda e verdejante
Não chega lá o barulho do asfalto
É um branco ninho calmo e repousante

A casa dos meus sonhos tem varandas
E lindas redes preguiçosas pra deitar
As trepadeiras em forma de guirlandas
Adoçam e encantam nosso olhar

A casa dos meus sonhos tem na frente
Um jardim florido e encantado
Onde de longe o perfume já se sente
Do lindo roseiral multicor e bem cuidado

Os passarinhos arrulham seus amores
Em árvores lá no fundo do terreiro
Os jasmineiros derramando suas flores
Enchem de odores o quintal inteiro

Na minha casa seria belo o amanhecer
Na janela, o cantar de um rouxinol
Eu seria acordada ao alvorecer
No meu rosto, um alegre raio de sol

Com céu de estrelas cravejado
Imagino que em noite enluarada
Um triste violeiro fatigado
Solte sua canção plangente e apaixonada

De beleza e simplicidade eu encheria
A casa dos sonhos meus
Com filhos e netos eu viveria
Em comunhão com a vida e com Deus

(Montes Claros, 23 de maio de 2006)

Mais versos de Dona Lúcia Tibo:

O MAR E O LAGO
Uma é um mar revolto e fremente
A outra, um lago azul sem nuvens
Ou cerração.
Uma entra em nossa vida lentamente
A outra a invade como um furacão .
Uma, tem do mel, a doçura.
A outra , o sabor do vinho .
O mel me tira da vida , a amargura
O vinho me embriaga com carinho.
PATRICIA é o lago azul que me encanta
POLLYANA é o mar que me fascina
O barulho dessa água me acalanta...
Faz-me muito bem ao coração.
Dão alegria e sentido à minha vida
E eu as amo com paixão .

Em prosa e em versos eu cantei
De minhas filhas, a beleza e o carinho
De mil formas, a Deus agradeci
A luz que delas vem iluminar o meu caminho
Nesta vida, tão deserta de bondade
Mais cinco oásis verdejantes encontrei
E muitas vezes, sob o peso da idade
Nesses oásis repousantes descansei
Fred, Fabiano, Flávio, Fabrício e Fernando
Só me trazem amor e alegria
São tantas coisas boas que me dão
Que me pego a sorrir cantando
Faço então uma bela apologia
Ao amor que me enche o coração

VERSOS SOLTOS
A noite caiu em minh´alma
E meu mundo escureceu
A alegria de um dia ensolarado
Saiu correndo e se escondeu
A tristeza, o meu peito, oprimiu
Uma lágrima anuviou o meu olhar
Nem vi a criança que sorriu
E nem o perfume da rosa exalar
De repente... muito de repente
Uma nova luz eu vi brilhar
Com o perfume da rosa, me inebriei
A tristeza se tornou ausente
Um passarinho perto de mim veio cantar
E minha paz eu encontrei

(Tristeza quando meu filho adoeceu e depois alegria e gratidão a DEUS pela sua recuperação - Lúcia Tibo)
(Montes Claros, 22 de outubro de 2014)

MEU ARCO-ÍRIS
Estou pensando no meu Arco-íris
Chuva fina na vidraça
Tão fininha... quase nada
Trouxe-me uma saudade incontida
Tão presente e tão passada
Em meio à chuva fina
Um raio de sol dourado
E mais distante... lá estava
Meu Arco-íris encantado
Sorrateiras, abrem-se as portas
Do meu mundo mui amado
De lembranças tão queridas
Que me jogam no passado
Eu, criança assustada
Olho a chuva no telhado
É o mesmo raio cor dourada
E o meu Arco-íris, ao seu lado
Ouço a mamãe, que dizia
Em simplicidade adorada:
"Olhe o Arco-íris, querida!
Veio ao rio beber água
Não chegue perto, meu mimo
Ele engole criança, pode crer!
Transforma menina em menino
Para depois devolver."
Ficava eu dividida
Entre o medo e o fascínio
Queria ir ao rio, em corrida
Mas não queria ser menino
Ao relembrar esses fatos
Vejo o coração amoroso
De minha mãe nos afastando
De um rio tantas vezes perigoso
Ainda permanece a magia
Depois de anos passados
Das histórias que eu ouvia
Do meu lindo Arco-Íris
Nos meus sonhos encantados.

(Montes Claros,17 de maio de 2011)

POLLYANA
Não sou poetisa, se me fora dado ser
Em belos versos haveria de cantar
A beleza lírica de um entardecer
E uma noite mágica de luar!
Eu cantaria cheia de emoção
E enfeitaria de beleza as rimas
Ao falar do amanhecer no meu sertão
E ao exaltar o perfume das campinas
Na minha inspiração não faltaria
Para mais ainda, as rimas enfeitar
A figura meiga e mui querida
Da "POLLYANA", o anjo do meu lar
E ao falar deste amor querido
Que é só meiguice, ternura e carinho
Eu ia me lembrar, eu não duvido
De cantar o trinar do passarinho!
E ao Pai Nosso de toda criação
Eu cantaria mil hinos de louvores
E pediria com o coração na mão
Mil bênçãos pra meus filhos, meus amores!

VOVÓ MULATA
De nossa infância ela guardou
O riso, a alegria e a felicidade
O tempo levou tudo e nos deixou
Chorando em cada canto, uma saudade!
Recordação da minha infância
Quedo-me a pensar: quanta saudade!
Ao reviver meus tempos de criança
Nos recantos mágicos cheios de felicidade
Foram tempos de folguedo e de bonança
Meu pensamento voa célere e vai se esconder
Na casa de Vovó Mulata, tão querida
A casa de meus sonhos e de tão grande bem-querer
Encantava e dava cor à minha vida
Quando o galo no terreiro já cantava
E os passarinhos saíam do seu ninho
O leite no curral já lá estava
E Tio Tibo nos chamava com carinho
O leite era bebido com sofreguidão
E ao chamado de Maria, mui querida
Comíamos o gostoso requeijão
E o café era a melhor bebida
O carro de boi rangendo vagaroso
Ao nosso paraíso nos levava
Para aquele banho bem gostoso
E com roupa mesmo, a gente se banhava
Águas tão puras, tão transparentes
Com pedrinhas no fundo a nos olhar
Refletiam nossos rostos sorridentes
Qual espelho cristalino a brilhar!
De volta à casa, alegres a cantar
Para o mangueirão, saíamos a correr
Os ovos de Cocá, na saia íamos buscar
Lá estavam no mato a se esconder
Voavam assim nossos dias descuidados
Nossa infância e férias cheias de felicidade
E num cantinho ficaram bem guardados
Nossos sonhos envolvidos na saudade!

(Morávamos em Porteirinha! Mas nas férias íamos para a Sant'ana, para a casa de Vovó Mulata.
A casa ainda lá está... não sei a quem pertence hoje... mas no meu coração continua sendo minha... sempre! - Lúcia Tibo)