Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sábado, 13 de junho de 2015

1269 - Vai-se o poeta das lindas canções

O poeta se cala, o corpo descansa, o destino se impõe, bruto, soberano e irremediável. A tristeza se instala, a música se apaga, a alma ascende aos céus para o crivo do Senhor Deus. Fernando Brant se foi, sua poesia não. Ela estará para sempre eternizada nas suas canções. E que canções!


Fernando Brant faleceu em Belo Horizonte nesta sexta-feira à noite, aos 68 anos de idade, após complicações decorrentes de uma cirurgia de transplante de fígado. 
O talentoso compositor mineiro Fernando Rocha Brant nasceu na cidade de Caldas, no Sul de Minas, em 9 de outubro de 1946 e se destacou enormemente na música brasileira, com suas iluminadas criações poéticas e nas parcerias fundamentais com os "meninos" do Clube da Esquina. Em especial com os amigos Milton Nascimento e Tavinho Moura, que resultaram em clássicos eternos do nosso cancioneiro popular.
Fernando Brant termina a sua gloriosa "Travessia" em completa paz, após muito brincar com "Bola de Meia e Bola de Gude", de viver inúmeros "Encontros e Despedidas", de tanto visualizar a "Paisagem na Janela" e dançar colado "Nos Bailes da Vida", com muita "Paixão e Fé" no "Beco do Mota", enviando canções "Para Lennon e McCartney" e para as "Meninas no Trem de Sabará". Sem os versos de Fernando Brant, "Pelo Amor de Deus", "O Que Será de Nós?" Teremos que implantar a "Conspiração dos Poetas" e criar uma nova "Canção da América" sob as bênçãos de "Maria Maria", com aquela "Saudade dos Aviões da Panair" e daquelas inesquecíveis "Canções e Momentos" de "Manuel, o Audaz"?
Compreendo que, mesmo sabendo que "meu caminho é de pedra, como posso sonhar", "há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração" na "janela lateral do quarto de dormir", pois "sou do mundo, sou Minas Gerais" e vejo que "os homens serão felizes como se fossem meninos" quando entenderem que "amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração". 
Descanse em paz, Fernando Brant, artífice das palavras, arranjador de emoções, poeta que embalou muitos bons momentos da minha vida.
Um grande abraço espinosense.   


Conspiração dos Poetas (Tavinho Moura e Fernando Brant)

Poesia é meu pão, 
E a vida meu juiz, 
Meu destino eu mesmo é quem fiz, 
Meu coração, amar, 
Minha razão, brigar pelo país, 
Minha fé, sonhar, 
Minha paixão, viver solidário e contigo é viver feliz, 
Minha canção cantará quem souber esse caminho, 
Quem souber de lua e mar, 
Poesia, espaço de brincar, 
Quem não quer ficar sozinho, 
Quem conjuga o verbo amar, 
Poesia, espaço de criar, 
Meu coração vencerá,
Vencerá...

1965 (Fernando Brant)

Quando eu pus o pé na estrada, 
Não sabia de estrada nenhuma, 
Nem via que caminhava, 
O tempo em que caminhando eu ia, 
Muita coisa acontecendo, 
1965, 
O mundo me invadia, 
A cabeça era um redemoinho, 
O rumo eu fui fazendo, 
Sem saber que o fazia, 
Ouvindo meu Miles Davis 
E vendo meu Fellini, 
Cada um dos meus sentidos, 
Bebia daquela fartura, 
A vida era teatro, cinema e literatura, 
Aí eu fui descobrindo o que era meu destino, 
Falar dos sonhos do homem, 
Com um coração de menino, 
Fazer amigo e amiga, 
E levar por toda a vida, 
Seguir apaixonado, 
Fazer a coisa bonita, 
Cair na vida e na música, 
Que abriram meu horizonte, 
Atrás eu vejo estrada, 
Caminho eu vejo à frente.

Não deixem de assistir ao documentário no vídeo baixo, "Sobre Amigos e Canções" que conta a história do movimento musical mineiro "Clube da Esquina". Produzido como trabalho final do curso de Jornalismo da PUC-SP, com direção e roteiro de Bel Mercês e Leticia Gimenez e edição de Thais Cortez. Imperdível!
  

Nenhum comentário: