Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

quinta-feira, 6 de junho de 2013

729 - "A Medida do Amor", por Sílvia Tibo

Recebi, dias atrás, um e-mail de Bruno Augusto Oliveira Cruz, advogado, atleticano, filho dos amigos Zé Conset e Carleuza. Era uma crônica brilhantemente escrita por Sílvia Tibo, filha de Dr. Juraci Barbosa Lima e Leninha, falando de amor e da imensa saudade que sentia da presença da mãe dela, que não está mais entre nós.
Li, emocionado, e diante de tanta beleza de texto e sentimentos, peço humildemente à Sílvia que permita-me aqui publicá-la para que toda a comunidade espinosense possa se inteirar da beleza do amor infinito exposto em suas sábias palavras. 
A MEDIDA DO AMOR
Sílvia Tibo
Sempre acreditei que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. E, seguindo esse lema, tenho procurado saborear intensamente os momentos em que a vida me concede a alegria e a graça de estar entre aqueles que mais amo.
Nos últimos finais de semana, a vida resolveu ser generosa comigo, presenteando-me com a oportunidade de estar, ainda que por poucas horas, em companhia de pessoas queridas, com as quais, por motivos alheios à minha vontade, acabo convivendo pouco, mas que nem por isso deixam de ocupar a maior parte do meu coração.
São avós, tios, primos. E filhos dos primos. E esposas e maridos dos primos. Tudo junto, misturado, em pacotinhos cuidadosamente elaborados, com lindas e boas doses de alegria, sorrisos, brincadeiras, gargalhadas, beijos e abraços apertados.
Volta e meia, me pego imaginando como seria bom tê-los por mais tempo e mais perto. Como quando éramos mais jovens e morávamos todos na mesma cidade. Época, aliás, em que muitos deles (os hoje menorzinhos) sequer haviam chegado. Eram ainda sonhos, projetos, que só viriam (e vieram) colorir nossas vidas alguns anos mais tarde.
Desde que saí de casa, já há uns bons anos, passei tempos buscando meios de trazer ao menos parte dessas pessoas tão queridas para perto de mim. Torcia, por exemplo, para que meus pais tomassem gosto pela vida da cidade grande e se mudassem de vez para um cantinho aqui nas minhas imediações. Pensava que a vida era curta e que não bastava “amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Era preciso, também, estar perto delas.
Quão ingênua eu era. E egoísta também.
Pra mim, nessa época, amor era sinônimo de contato físico, de proximidade de corpos. Queria e precisava desses corpos amados bem ali, juntinho de mim. Imatura e ansiosa, mal sabia que o que mais interessa nessa história toda é a proximidade de corações. E os laços invisíveis (mas intensos e verdadeiros) que existem entre eles.
Parafraseando Carla Dias, assim que minha mãe “se foi”, senti que o amor ganhou outra e nova conotação em minha vida. Há tempos não a vejo, não sinto sua pele, seu cheirinho, nem ouço sua voz, sempre doce. Mas o fato é que a amo cada vez mais.  Amo-a com os defeitos e as qualidades que tinha. E não só pelo que foi ou fez, mas pelo que é e representa agora na minha vida.  Justo eu, que acreditava já tê-la amado no maior nível possível e imaginável.
Que boba eu fui. Não sabia que a medida do amor é a mesma da saudade. E que se o peso da ausência física não se desfaz com o passar do tempo, ao menos se ameniza através das boas recordações.
Entre esses pesos e medidas, no final das contas, o que são alguns quilômetros ou horas de voo, carro ou avião? Ou o que é (até mesmo) a tênue linha existente entre a vida e a morte?
A verdade, lá no fundo, é que distâncias e separações momentâneas de corpos físicos nada (ou pouco) significam para corações e espíritos que se sentem e se veem eternamente emaranhados, na lembrança das alegrias compartilhadas e na expectativa dos futuros reencontros. 
Obrigado à Sílvia pelo texto luminoso e belíssimo, que eu gostaria de ter capacidade de escrever, tamanha a similaridade de pensamento. Parabéns e felicidades.
Um grande abraço espinosense. 

728 - "Faroeste Caboclo", o filme

727 - Elomar Figueira de Mello, um grande cantador brasileiro

Não é fácil ser artista da música no Brasil. Que o digam milhares de talentosos artistas que batalham diariamente por todo o país na busca por um espaço para mostrar o seu trabalho e que encontra pela frente apenas portas fechadas e estreitas possibilidades de sucesso no injusto mercado musical. Enquanto grandes e talentosos artistas da boa música brasileira não tem oportunidades, outros menos capacitados chegam facilmente ao sucesso. Mas eles jamais desistirão, pois a arte está completamente enraizada em sua mente, em seu coração e em sua história de vida.
Um desses batalhadores incansáveis na defesa da sua arte é o baiano Elomar Figueira Mello. Nascido na Fazenda Boa Vista, em Vitória da Conquista, aos 21 dias de dezembro de 1937, o cantador e compositor ainda mantém vivo na alma o amor incondicional ao Sertão. Morou em Vitória da Conquista dos 3 aos 7 anos, mas voltou à tranquila vida na roça. Elomar saiu ainda jovem para estudar em Salvador, onde se formou em Arquitetura na Universidade Federal da Bahia, no final dos anos 60. Mas retornou logo em seguida para o seu verdadeiro lugar, onde se sente em casa.
Elomar vive atualmente entre as suas fazendas, a "Casa dos Carneiros", a "Duas Passagens" e a "Lagoa dos Patos", onde cria cabras, carneiros e algum gado. Entre os cotidianos afazeres das propriedades rurais, ele encontra tempo para continuar compondo as suas canções e de vez em campo se aventurar pelos palcos das cidades grandes e pequenas, para levar bem longe a sua arte fincada na beleza do sertão e dos sertanejos.
Elomar lançou o seu primeiro trabalho musical no ano de 1968, em um compacto simples com as músicas "O Violeiro" e "Canções da Catingueira". O primeiro LP, de produção independente, com 12 canções de sua autoria e com apresentação de Vinícius de Moraes,  foi lançado em 1972, intitulado "Das Barrancas do Rio Gavião", o que o fez tornar-se conhecido do cenário musical brasileiro.
Em 1979, ao lado do pianista Arthur Moreira Lima, lançou o LP "Parcelada Malunga", pelo selo Marcus Pereira, como também o álbum duplo "Na Quadrada das Águas Perdidas", que consolidou o seu prestígio junto à crítica do eixo Rio-São Paulo. Em 1981, lançou "Fantasia Leiga Para Um Rio Seco". Em 1983, saiu o álbum duplo "Cartas Catingueiras". No mesmo ano, foi lançado, pela gravadora Kuarup, o disco duplo "ConSertão", gravado na sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e que teve participações especiais do pianista Arthur Moreira Lima, do violonista Heraldo do Monte e do saxofonista Paulo Moura. Ainda em 1983, lançou o LP "Auto da Catingueira", com todas as faixas de sua autoria, gravado inteiramente na sala de visitas da Casa dos Carneiros. Em 1984, participou no Teatro Castro Alves, em Salvador, do show "Cantoria", com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai, no qual foi gravado disco ao vivo lançado no mesmo ano pela Kuarup. Em 1985, foi lançado o disco "Cantoria 2", com os mesmos integrantes do disco anterior. Também no mesmo ano, a Kuarup lançou o disco "Sertania", com participação de Elomar e a Orquestra Sinfônica do Sertão. "Concerto Sertanez", disco lançado em 1988, contou com participação de Turíbio Santos, Xangai e João Omar, seu filho maestro. Em 1989, lançou pela Kuarup o disco "Elomar em Concerto", com algumas regravações, como "A Meu Deus Um Canto Novo" e "Incelença Pro Amor Distante". Em 1992, lançou "Árias Sertânicas", que mostra fragmentos de suas óperas. No disco as vozes e violões são de Elomar e João Omar. 1995 foi o ano de "Cantoria 3", que registrou os momentos solos de Elomar durante a grande "Cantoria" que deu origem a três álbuns no total e muitas turnês pelo país. 
Em 2002, participou do CD "Cantoria Brasileira", disco comemorativo dos 25 anos da gravadora Kuarup, juntamente com Pena Branca, Renato Teixeira, Teca Calazans e Xangai. Em agosto de 2005, apresentou-se no Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro, em sequência do projeto "Música nas Estrelas", com casa lotada, como é comum em suas apresentações nos grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Um songbook com a obra completa de Elomar foi lançado pela Casa de Cultura de Vitória da Conquista em 2006. 
Em junho de 2007, uma de suas fazendas, a "Casa dos Carneiros", localizada em Gameleira, a cerca de 20 quilômetros de Vitória da Conquista, tornou-se uma Fundação, com o objetivo de se tornar um centro de pesquisas, com cursos e atividades ligadas à música erudita, ao teatro, à educação e à ecologia e tendo como especialidade incentivar o desenvolvimento dos estudos sobre a cultura nordestina.


Discografia:
  • (1995) Cantoria 3 - Elomar -Canto e solo • CD
  • (1992) Árias Sertânicas • Rio do Gavião • LP
  • (1989) Elomar em Concerto • Kuarup • LP
  • (1988) Concerto Sertanez • LP
  • (1986) Dos Confins do Sertão • Trikont • LP
  • (1985) Sertania • Kuarup • LP
  • (1985) Cantoria 2 • Kuarup • LP
  • (1984) Cantoria 1 • Kuarup • LP
  • (1983) Cartas Catingueiras • Gravadora e Editora Rio do Gavião • LP
  • (1983) Auto da Catingueira • Gravadora e Editora Rio do Gavião • LP
  • (1983) ConSertão. Um Passeio Musical Pelo Brasil • Kuarup • LP
  • (1981) Fantasia Leiga Para Um Rio Seco • Rio do Gavião • LP
  • (1979) Parcelada Malunga • Marcus Pereira • LP
  • (1979) Na Quadrada das Águas Perdidas • Marcus Pereira • LP
  • (1972) Das Barrancas do Rio Gavião • Phillips • LP
  • (1968) O Violeiro/Canções da Catingueira • Compacto simples
Elomar foi bastante influenciado pelos cantos religiosos, pela música medieval e pelas cantorias dos sertanejos que ele escutava bastante na infância. Suas canções tratam essencialmente das vicissitudes por que passa o homem do Sertão, suas dificuldades, seus sofrimentos, suas dores, como também seu relacionamento com Deus, na linguagem bem peculiar dos habitantes das regiões do interior do sul da Bahia e do norte de Minas Gerais. Sua vasta produção como compositor, além das canções mais conhecidas, inclui galopes estradeiros, canções de alta influência regional, além de óperas e autos já registradas em partituras, ainda não gravadas.
Elomar prefere viver a maior parte do seu tempo nas suas fazendas. Na Fazenda Gameleira, que ele chama de Casa dos Carneiros, imortalizada na música Cantiga do Amigo; na Fazenda Duas Passagens que se localiza na bacia do Rio Gavião e na Fazenda Lagoa dos Patos, na Chapada Diamantina. Resolvido a não lançar mais discos, tem se dedicado mais à literatura, depois de ter lançado, em 2008, o romance "Sertanílias".
O menestrel baiano é casado com Adalmária de Carvalho Mello, pai de Rosa Duprado, João Ernesto e João Omar e avô de Gabriela Mello. Seus pais eram Ernesto Santos Mello, filho de tradicional família da zona da mata de Itambé, e Eurides Gusmão Figueira Mello. Tem dois irmãos: Dima e Neide.
Elomar se apresentou uma vez em Espinosa, no salão de festas da AABB, para um público bem pequeno. Infelizmente não pude estar presente e perdi a chance de assistir ao vivo a sua apresentação. Quem sabe um dia não possa ter outra oportunidade? 
Fontes: dicionariompb.com.br, elomar.com.br e wikipedia.org.
Um grande abraço espinosense.