Espinosa, meu éden

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domingo, 2 de junho de 2013

725 - O mais divino pé esquerdo

Não, caro internauta, não é o mágico pé esquerdo do gênio Diego Armando Maradona, que tanto encantou o mundo do futebol, a que se refere o título desta postagem. Também não é o pé esquerdo de Roberto Rivellino, com aquele seu chute poderoso, que era o terror dos goleiros adversários. Nem é também o pé esquerdo habilidoso e fatal do pequenino e iluminado craque argentino Lionel Messi, que deixa boquiabertos, com os seus dribles desconcertantes e seus gols de rara beleza, os torcedores de todas as torcidas. Tampouco se trata do pé esquerdo de Éder Aleixo, o "Bomba", que desferia seus potentes petardos que faziam tremer os homens escalados para compor a barreira. O mais importante, decisivo e aplaudido pé esquerdo da história recente do futebol e que entra definitivamente para a centenária e gloriosa história do Clube Atlético Mineiro não é de nenhum meio-campista, ponta esquerda ou atacante goleador, mas de um goleiro. Víctor Leandro Bagy é o seu nome.
Na dramática partida pelas quartas de final da Copa Libertadores da América, no confronto com o esquadrão mexicano do Tijuana, o goleiro foi o "salvador da pátria atleticana" ao consolidar, no último minuto da partida, a suada e emocionante classificação do time alvinegro das Gerais às semifinais da competição, um feito inédito. Foi um incrível teste para os fortes corações atleticanos, já tão calejados em momentos de intensa tensão, dramaticidade e sofrimento.
Depois de conseguir um empate heroico nos instantes finais do primeiro confronto com o Tijuana no México, o Atlético e toda a sua apaixonada torcida imaginavam que a partida de volta, no Independência, seria bem mais tranquila, já que um empate em 0 x 0, 1 x 1 ou uma vitória por qualquer placar levaria o time para a fase seguinte. Mas o futebol sempre nos surpreende e o que se viu no gramado do estádio do Horto jamais sairá da memória de quem presenciou aquela verdadeira batalha pela sobrevivência. Depois de levar um gol do atacante Reascos ainda no primeiro tempo, aos 25 minutos, e levar sufoco durante boa parte do jogo, o Atlético não se encontrava em campo e parecia deixar escapar entre os dedos o sonho do título continental. Com tensão máxima nos lares, bares e arquibancadas da Arena Independência, tomadas por torcedores com máscaras do "pânico", somente aos 40 minutos do primeiro tempo, um suspiro de alívio se ouviu após o gol marcado por Réver, após cobrança de falta de Ronaldinho Gaúcho. Ufa, alívio total! Com o resultado de empate por 1 x 1, estava sendo confirmada a classificação para as semifinais.
Mas, como tudo na história atleticana, nada acontece assim tão facilmente, sem uma pitada forte de emoção e angústia. E o Tijuana continuava a testar o coração atleticano. Aos 24 minutos, Martinez tocou para Piceno, totalmente livre de marcação, cara a cara com Víctor. O goleiro atleticano conseguiu evitar o desastre, com uma defesa espetacular. Mais tarde, Arce cobrou falta e acertou o travessão, elevando ainda mais a tensão no estádio. Mas ainda faltava o momento do êxtase total. No último minuto de jogo, pênalti contra o Atlético. Era o fim! Os milhões de corações atleticanos chegavam ao estágio máximo da tensão, do desespero e da dor. Melhor time do torneio, melhor futebol apresentado, melhor campanha, tudo estava perdido, o sonho chegava ao fim.
Mas eis que os deuses que escrevem a imprevisível história do futebol resolveram inovar e, para contrariar a longa caminhada do Atlético sempre repleta de muito azar e erros arbitrais, decidiram que o pé esquerdo do goleiro Víctor fosse a salvação da nação alvinegra. O atacante Reascos correu para a bola na cobrança do pênalti e escolheu tocar forte no meio do gol. Víctor, mesmo se atirando para o lado direito do gol, deixa a perna esquerda no alto e consegue, de forma incrivelmente espetacular, rebater a bola para a lateral do campo, sem chance de rebote pelo adversário. Um milagre! Um verdadeiro milagre!
A empolgação se espalhou pelo estádio e certamente pelos muitos locais infestados de atleticanos pelo mundo que acompanhavam atentamente a partida. Aí o que se viu na Arena Independência foi uma loucura completa, com muita euforia, vibração e choro, um choro sufocado de quem ainda acredita que o sonho permanece vivo. Depois de passar por esta incrível situação de aflição e agonia com final feliz, se algum atleticano tivesse alguma chance de morrer do coração, essa possibilidade está totalmente descartada. O sonho de conquistar a América continua bem vivo e novas batalhas emocionantes ainda virão. 
Um grande abraço espinosense.