Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sábado, 22 de setembro de 2012

524 - Que sexta-feira boa!

Mesmo impedindo o sagrado futebol do sábado, a chuva que cai mansamente agora de manhã vem minorar o calor infernal dos últimos dias em Montes Claros e trazer esperança e alegria aos habitantes do sertão norte-mineiro. Espero que a chuva abençoada continue por aqui e estenda os seus pingos sagrados até o solo ressecado da nossa amada Espinosa. Mas vamos falar de ontem, uma sexta-feira especial. É engraçado notar que às vezes você não consegue nada de interessante para fazer em alguns dias da semana. Em outros, são tantas possibilidades de lazer que você fica chateado por não poder estar em todos os eventos. Nesta sexta-feira pude aproveitar de bons momentos de cultura e prazer. Para começar, pude assistir a um emocionante documentário sobre a vida e obra do poeta cearense Patativa do Assaré, filme integrante da 1ª Mostra de Cinema de Montes Claros, que está acontecendo na cidade, no campus da Unimontes, entre os dias 19 e 22 de setembro.

A 1ª Mostra de Cinema de Montes Claros integra o projeto Cinema Comentado Cineclube, que desde o ano de 2003 exibe gratuitamente filmes não incluídos no circuito comercial, dos mais variados estilos, gêneros, países e diretores. Sempre após a sessão, os participantes participam de um debate sobre os curtas e longas apresentados, com a mediação do coordenador do projeto, o cinéfilo Elpídio Rocha Neto. Infelizmente até hoje não tive a oportunidade de participar do Cinema Comentado, devido ao seu horário um pouco inadequado para mim. Mas ainda espero poder participar desta oportunidade única de adquirir conhecimento, ainda mais por ser totalmente de graça. Imperdível!

Não poderia deixar de escrever aqui alguma coisa sobre o grande poeta Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como "Patativa do Assaré". Talvez grande parte de vocês nunca tenham ouvido falar deste agricultor pobre nascido aos 5 de março de 1909 na Serra de Santana, em Assaré, sul do Ceará, filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Ninguém conseguiu tão maravilhosamente bem retratar as agruras dos nordestinos, bem como a beleza e a dura realidade do sertão como ele. Sua obra, construída sem muito estudo, encanta a todos que a descobrem. Um bom início desta descoberta pode ser através das músicas "A Triste Partida", gravada por Luís Gonzaga e "Vaca Estrela e Boi Fubá", gravada por Fagner. Este verdadeiro gênio da poesia matuta morreu aos 93 anos, em 8 de julho de 2002, na mesma localidade onde nasceu, amou e viveu, no seu pedacinho do sertão brasileiro.
Só uma pequena amostra da sua mente privilegiada, no poema "Sertão":
Sertão, arguém te cantô
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô
Pruquê, meu torrão amado
Munto de prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá
A tua beleza é tanta
Que o poeta canta, canta
E inda fica o que cantá...

Nesta primeira mostra de cinema, denominada "O Sertão é o Mundo", estão sendo apresentados curtas e longas metragens cuja temática tem, como pano de fundo, a realidade da vida dos sertanejos, com todas as suas lutas, dificuldades e anseios. O encerramento acontecerá hoje, às 21 horas, desta vez em uma sala do Ibicinemas, no Shopping Ibituruna, com a apresentação do filme "Febre do Rato", do diretor Cláudio Assis, que estará presente. Os ingressos, gratuitos, serão distribuídos a partir dos 40 minutos anteriores à sessão.
Após assistir à "Patativa do Assaré - Ave Poesia", outro evento cultural de ótima qualidade. Na Praça dos Jatobás estava acontecendo o evento Minas ao Luar, projeto musical do SESC que percorre várias cidades do estado de Minas Gerais, oferecendo gratuitamente e ao ar livre, um show de muito bom gosto e qualidade, apresentando excelentes cantores interpretando novas e antigas canções, clássicos do cancioneiro popular brasileiro, resgatando a tradição seresteira do povo mineiro. Algumas barraquinhas atraíam o público presente com o cheiro inebriante do arroz com pequi e do feijão tropeiro, que exalava por todo o local. Impossível resistir. A Praça dos Jatobás estava lotada, principalmente de famílias inteiras, que dançaram, cantaram e proporcionaram aos seus filhos menores a possibilidade já não tão corriqueira de brincar à vontade na praça. Muito legal!



Para encerrar a noite, uma passadinha no Skema Kent do palmeirense gente fina Zé Maria para bebericar uma cervejinha gelada, pois afinal de contas, era sexta-feira e eu também sou filho de Deus, né? E ficamos ali algum tempo batendo papo e curtindo a apresentação da cantora Rose, que tocava clássicos da MPB, com muita competência. Valeu a noite! Ah, se tivéssemos esse privilégio em Espinosa! É um sonho, mas quem sabe um dia não se torne realidade?
Um grande abraço espinosense.