Espinosa, meu éden

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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

582 - Vem aí uma revolução arquitetônica no Paraíso: Oscar Niemeyer subiu aos céus

Um grande brasileiro se vai, depois de uma longa vida de trabalho, força, luta pelos seus ideais e um exemplo de honradez e dignidade. Morre no Rio de Janeiro, aos 104 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer.

"Não depende somente do arquiteto ou urbanista a imensa tarefa de humanizar a vida moderna. Ele não pode, entretanto, esquecer sua parte de responsabilidade; no momento em que se debruça sobre a prancheta ele deve se lembrar de que o homem não é apenas uma fraca máquina a ser protegida e servida por outra mais sólida chamada casa; é um estranho bicho que tem alma e sentimento, e fome de justiça e de beleza, e que deve ser consolado e estimulado."

"Sempre acrescentei nas minhas palestras que não dava à arquitetura maior importância, e não havia nada de desprezo nessas palavras. Comparava-a com outras coisas mais ligadas à vida e ao homem, referia-me à luta política, à colaboração que todos nós devemos à sociedade, aos nossos irmãos mais desfavorecidos. O que poderia ser comparado à luta por um mundo melhor, sem classes, todos iguais?"

"Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo."

Assim se definiu o maior arquiteto brasileiro, reconhecido mundialmente como um dos grandes criadores da arquitetura contemporânea.  Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu no Rio de Janeiro aos 15 de dezembro de 1907, filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida. Casou-se aos 21 anos com Annita Baldo, com quem teve somente uma filha, Anna Maria Niemeyer (1931 - 06-06-2012). Em 1929, passa a trabalhar na tipografia do pai e matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, se formando engenheiro arquiteto em 1934, conquistando o primeiro lugar, ao lado de Mílton Roberto.

Começou então a trabalhar com os conceituados arquitetos Lúcio Costa e Carlos Leão, participando da equipe responsável pelo projeto do edifício do Ministério da Educação e Saúde em 1936. A partir daí, viriam a oportunidade de conhecer o famoso arquiteto Le Corbusier e a realização de inúmeros projetos pelo mundo. Em 1937, projeta a Obra do Berço, no Rio de Janeiro. O Grande Hotel de Ouro Preto viria em 1938. Em 1940, criaria um dos mais importantes projetos seus, depois de conhecer o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o convidou para projetar o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, que inclui a famosa Igrejinha de São Francisco de Assis.
O Grande Hotel de Ouro Preto em Minas Gerais

A Igrejinha de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte

Em 1946, projeta a sede do Banco Boavista, no Rio, e o Colégio Cataguases, na cidade de mesmo nome. Em 1947 foi o vencedor do concurso para a construção da sede da Organização das Nações Unidas em Nova York, construído conjuntamente com uma equipe de grandes arquitetos do mundo inteiro. 
É publicado, em Nova York no ano de 1950, o livro The Work of Oscar Niemeyer, do arquiteto e historiador grego Stamo Papadaki, que divulga o seu trabalho para o mundo. Em 1951 projeta o Parque do Ibirapuera e o Edifício Copan, dois dos mais famosos cartões-postais da cidade de São Paulo. Em 1952, a Casa das Canoas. Em 1954, a Residência Cavanelas e o Museu de Arte Moderna, em Caracas, na Venezuela. Também em 1954, Niemeyer é convidado a participar, ao lado de outros 15 arquitetos de renome internacional, da Exposição Internacional de Arquitetura de Berlim (Interbau), cujo objetivo principal era a remodelação do bairro Hansa (Hansaviertel), como parte do programa de reconstrução da cidade alemã de Berlim, arrasada após a guerra. Foi a sua primeira viagem à Europa, quando visitou ainda a Itália, a França, a República Tcheca e a antiga União Soviética.
Sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque

O Parque do Ibirapuera em São Paulo
Mais uma vez Juscelino Kubitschek o convidaria para outro projeto, este de fenomenal importância. Depois de se eleger presidente da República em 1956, JK o encarregou, depois de nomeá-lo diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura da Novacap, de organizar o concurso para a escolha do plano-piloto da nova capital a ser construída no planalto central do pais, Brasília. Lúcio Costa foi o vencedor. Assim Niemeyer projetou as inconfundíveis construções que embelezam a capital brasileira, como os prédios do Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, a Catedral, os prédios dos Ministérios, o Supremo Tribunal Federal, o Teatro Nacional de Brasília, além de edifícios residenciais e comerciais da nova capital, inaugurada em 21 de abril de 1960.  É de sua autoria também a residência provisória usada por Juscelino durante a construção de Brasília, o conhecido Catetinho.
Em 1962 é construído o projeto da Feira Internacional e Permanente do Líbano, em Trípoli, e o Palácio do Itamaraty e o Ministério da Justiça, em Brasília. Em 1965 é construído o Aeroporto de Brasília, também projeto seu.
Palácio da Alvorada em Brasília

Congresso Nacional em Brasília

Catedral em Brasília

Palácio do Planalto em Brasília
Ainda em 1962, foi convidado pelo então reitor da UnB, Universidade de Brasília, Darcy Ribeiro, para ser o coordenador da Escola de Arquitetura, de onde saiu em 1965 em protesto contra a invasão da instituição em 1964 e contra a política universitária instaurada pelo governo militar vigente. Desiludido com a ditadura então implantada no país em 1964 e impedido de aqui exercer a sua profissão, decidiu se transferir para a Europa, indo trabalhar em Paris, onde projetou a sede do Partido Comunista Francês, além de projetos na Itália, como a sede da Editora Mondadori (1968), e na Argélia, como a Universidade de Constantine (1969) e a Mesquita e o Centro Cívico de Argel (1968).
Em 1968 também foi a vez de projetar o Centro Musical da Guanabara. Em 1972, a Bolsa de Trabalho de Bobigny, na França. Ainda em 1972, o Centro Cultural de Le Havre, na França. Em 1975, a sede da Fata Engineering, em Turim, na Itália.
Sede do Partido Comunista Francês em Paris

Centro Cultural de Le Havre na França
Depois da anistia política implantada em 1980, ele retornou ao país, onde fez o projeto do Memorial Juscelino Kubitschek em Brasília. Em 1981, a Ilha de Lazer em Abu Dhabi. Em 1982, projetou os CIEPS - Centro Integrado de Educação Pública, um sonho de Darcy Ribeiro que pretendia fazer uma revolução na educação brasileira, com ensino público em tempo integral, focado na formação completa dos alunos. Em 1983, no governo de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, projetou a Passarela do Samba ou o Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Em 1985, criou o Panteão da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves na Praça dos Três Poderes em Brasília. Em 1987, fez o projeto do Memorial da América Latina em São Paulo. No ano seguinte é condecorado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura, em Chicago, nos Estados Unidos.
Memorial Juscelino Kubitschek em Brasília
Passarela do Samba ou Sambódromo da Marquês de Sapucaí
Em 1991, cria o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e o Parlamento Latino Americano em São Paulo. Em 1996 projeta o Monumento Eldorado Memória, doado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, localizado na cidade de Marabá (PA), em homenagem aos 17 trabalhadores rurais mortos pela polícia. Dias após a inauguração, a obra foi destruída por inimigos dos trabalhadores.
Ainda em plena atividade de trabalho, Niemeyer realiza em 1999 o projeto arquitetônico do Auditório do Parque do Ibirapuera. Em 2000, projeta o Auditório de Ravello, na cidade italiana. Em 2003, a Serpentine Gallery Pavillion, no Hyde Park de Londres e o projeto da Cidade Administrativa de Minas Gerais, construída em Belo Horizonte. 2004 traz a construção da sede administrativa brasileira da Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu. No ano seguinte, a sede administrativa paraguaia da Usina de Hidrelétrica de Itaipu.
Museu de Arte Contemporânea de Niterói

Cidade Administrativa de Minas Gerais em Belo Horizonte
Em 2006, ano do seu novo casamento com a secretária Vera Lúcia Cabreira, Niemeyer projetou o Centro Cultural Principado de Astúrias, na Espanha. No próximo ano, o Centro Cultural em Valparaíso no Chile, como também a Universidade de Ciências e Informática em Havana, Cuba. O Teatro Puerto de La Música, em Rosário, na Argentina, seria criado em 2008.
Adepto das linhas curvas, Niemeyer também se notabilizou por contar com a participação de grandes artistas plásticos na concretização das suas obras, pessoas do quilate de Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Alfredo Ceschiatti, Burle Marx e Tomie Othake.
Centro Cultural Principado de Astúrias na Espanha

O Teatro Puerto de La Música em Rosário na Argentina
Niemeyer sempre foi um admirador convicto do comunismo, um eterno revoltado contra as injustiças sociais, o que lhe trouxe algumas contrariedades. Em 1945 ele ingressou no Partido Comunista Brasileiro, de onde saiu em 1999, junto com Luís Carlos Prestes, por discordar dos rumos tomados pelo partido. Era um homem de grande caráter e enorme generosidade, trabalhando em vários projetos gratuitamente, além de sempre estar disponível para ajudar amigos em dificuldades, como o velho Prestes que, no final da vida, precisava de apoio financeiro para sobreviver.
Na sua prolífica vida profissional, Niemeyer deixou outras inúmeras obras na arquitetura, na escultura, e na literatura.
Memorial da América Latina em São Paulo

Museu Oscar Niemeyer em Curitiba
Falecido aos 104 anos de vida, próximo de completar 105 anos no dia 15 deste mês, Niemeyer foi um dos grandes expoentes da história da humanidade, deixando as suas obras imortalizadas e espalhadas por todo o mundo, prova da sua competência extraordinária.
Para se ter uma pequena ideia do alcance gigantesco do seu talento profissional, basta dar uma olhada nas grandes obras que saíram da sua mente privilegiada, conforme as fotografias acima. Confesso que só ao pesquisar este texto me dei conta da imensa capacidade de trabalho deste gênio da arquitetura, que deixou sua impressionante e maravilhosa obra espalhada por todos os recantos deste nosso gigante Planeta Terra. 
Descanse em paz, Oscar Niemeyer, orgulho da nação brasileira.
Um grande abraço espinosense.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente uma grande perda para a nação. Confesso a todos que só sabia da construção de Brasília como um projeto grande feito pelo Oscar, mas após ver as fotos senti vontade de ler a matéria do blog e vi que este sim marcou a história mundial, dono de uma incomparável mente brilhante. Descanse em paz.