Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

terça-feira, 21 de junho de 2011

156 - "Causos" e histórias espinosenses: O louco massagista do Cruzeirinho

Nos bons tempos do futebol do Cruzeirinho, nós, ainda bem jovens, não tínhamos as excelentes condições dos campos atuais para a prática do futebol. As bolas eram muito pesadas e usávamos, em lugar das chuteiras, o famoso Kichute, um calçado de borracha que servia para tudo, de ir à escola até a presença na missa de domingo.


Os campos, sempre irregulares, não eram gramados e a terra batida deixava estragos nos corpos dos jogadores. Ao ser derrubado ou dar um "carrinho" no adversário, constantemente ficávamos machucados nas laterais das coxas, com descamação da pele, o que, além de gerar bastante dor, ainda causava um incômodo infernal, pois o tecido da calça colava no ferimento e era um sofrimento tentar separá-los. O time do Cruzeirinho contava, então, com um "massagista", que nada mais era do que um irmão de um dos nossos jogadores, encarregado de atender aos atletas machucados em campo. Havia até uma caixa de massagista que continha alguns medicamentos muito usados na época, como merthiolate, mercúrio, éter e uma pomada de nome Bálsamo Benguê que era muito boa para tratar as contusões.

Em um determinado jogo do Cruzeirinho, um de nossos jogadores deu um "carrinho" no adversário e arranhou profundamente uma das coxas. O "massagista" Pedrão* rapidamente entrou em campo e, imediatamente sacou a embalagem do Bálsamo Benguê fazendo uma forte aplicação da pomada no ferimento do coitado do jogador. O atleta, então, levantou-se numa velocidade impressionante e começou a correr em círculos desesperadamente, urrando de dor, até que alguns companheiros chegassem perto para soprar o ferimento, diminuindo a agonia do pobre infeliz.
Desse dia em diante, ninguém mais quis ser atendido pelo nosso "massagista" Pedrão, que foi educadamente forçado a abandonar definitivamente a "profissão". Coisas de Espinosa! Um grande abraço espinosense.
*Pedrão - nome fictício.
Falando em kichute, deem uma olhada no trailer do filme "Meninos de Kichute". Muito legal.

155 - Dia de São João, dia de muita alegria!

Nestes tempos de festas juninas, lembro-me com bastante saudade das noites de São João em Espinosa. A compra dos traques, dos estalos de salão e das bombinhas pela minha mãe, era esperada com imensa ansiedade. Lá no final da Rua da Resina, nos fundos do antigo Mercado Municipal, as vendas de Sêo Antônio Miranda e Sêo Aristides eram os locais preferidos para a compra dos fogos de artifício. Ficávamos babando de vontade de comprar tudo aquilo exposto em cima do balcão. Não via a hora de chegar a noite de São João para soltar os traques e os estalos de salão, tudo de uma só vez, sem dó. Não sobrava nada para o outro dia. Ficávamos ali próximos à fogueira para acender os traques na madeira incandescente e, com muita coragem, soltá-los segurando bem na pontinha dos dedos, virando o rosto para o outro lado, para não ser surpreendido com faíscas nos olhos. Os estalos de salão eram arremessados com força no corpo dos companheiros, na maior bagunça. As bombinhas eram utilizadas de outras maneiras. A que me dava mais prazer era quando arrumávamos latinhas de sardinha vazias e, depois de acender a bomba, colocá-la debaixo da latinha e correr pra longe e esperar o estouro e o arremesso dela para as alturas. Era bom demais! E a rua totalmente tomada pelas fogueiras nas portas das casas? E a batata doce assada nas cinzas da fogueira? E as bandeirolas coloridas penduradas, cuidadosamente confeccionadas com o maior carinho por todas as mulheres da rua? E as músicas de São João, que embalavam todos aqueles momentos maravilhosos e encantadores? Nunca me saem da cabeça. Vejam algumas delas:



CAPELINHA DE MELÃO
Autores: João de Barros e Adalberto Ribeiro

Capelinha de melão
é de São João.
É de cravo, é de rosa, é de manjericão.
São João está dormindo,
não me ouve não.
Acordai, acordai, acordai, João.
Atirei rosas pelo caminho.
A ventania veio e levou.
Tu me fizeste com seus espinhos uma coroa de flor.
PEDRO, ANTÔNIO E JOÃO
Autores: Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago

Com a filha de João
Antônio ia se casar,
mas Pedro fugiu com a noiva
na hora de ir pro altar.
A fogueira está queimando,
o balão está subindo,
Antônio estava chorando
e Pedro estava fugindo.
E no fim dessa história,
ao apagar-se a fogueira,
João consolava Antônio,
que caiu na bebedeira.
SONHO DE PAPEL
Autores: Carlos Braga e Alberto Ribeiro

O balão vai subindo, vem caindo a garoa.
O céu é tão lindo e a noite é tão boa.
São João, São João!
Acende a fogueira no meu coração.
Sonho de papel a girar na escuridão
soltei em seu louvor no sonho multicor.
Oh! Meu São João.
Meu balão azul foi subindo devagar
O vento que soprou meu sonho carregou.
Nem vai mais voltar.
PULA A FOGUEIRA
Autor: João B. Filho

Pula a fogueira Iaiá,
pula a fogueira Ioiô.
Cuidado para não se queimar.
Olha que a fogueira já queimou o meu amor.
Nesta noite de festança
todos caem na dança
alegrando o coração.
Foguetes, cantos e troca na cidade e na roça
em louvor a São João.
Nesta noite de folguedo
todos brincam sem medo
a soltar seu pistolão.
Morena flor do sertão, quero saber se tu és
dona do meu coração.
Outra coisa que eu adoro nesta época é a famosa quadrilha. Mas aquela que tem um bom cantador, o cara que anima a turma toda, com todas aquelas coreografias agitadas e engraçadas. Anarriê! (En arrière, em francês, quer dizer para trás) Ah, também tem que ter o casamento na roça, claro. Meu grande amigo Alair, da Casa das Novidades, é fera nisso!
Pra quem quer aprender a cantar a quadrilha, aí vão os passos. Os comandos da dança mais utilizados são:
BALANCÊ (balancer) – Balançar o corpo no rítmo da música, marcando o passo, sem sair do lugar. É usado como um grito de incentivo e é repetido quase todas as vezes que termina um passo. Quando um comando é dado só para os cavalheiros, as damas, permanecem no BALANCÊ. E vice-versa.
ANAVAN (en avant) – Avante, caminhar balançando os braços.
RETURNÊ (returner) – Voltar aos seus lugares.
TUR (tour) – Dar uma volta. Com a mão direita, o cavalheiro abraça a cintura da dama. Ela coloca o braço esquerdo no ombro dele e dão um giro completo para a direita.

Para acontecer a dança é preciso seguir os seguintes passos:
01. Forma-se uma fileira de damas e outra de cavalheiros. Uma, diante da outra, separadas por uma distância de 2,5m. Cada cavalheiro fica exatamente em frente à sua dama. Começa a música. BALANCÊ é o primeiro comando.
02. CUMPRIMENTO ÀS DAMAS OU "CAVALHEIROS, CUMPRIMENTAR DAMAS": Os cavalheiros, balançando o corpo, caminham até as damas e cada um cumprimenta a sua parceira, com mesura, quase se ajoelhando em frente a ela.
03. CUMPRIMENTO AOS CAVALHEIROS OU "DAMAS, CUMPRIMENTAR CAVALHEIROS": As damas, balançando o corpo, caminham até aos cavalheiros e cada uma cumprimenta o seu parceiro, com mesura, levantando levemente a barra da saia.
04. DAMAS E CAVALHEIROS, TROCAR DE LADO: Os cavalheiros dirigem-se para o centro. As damas fazem o mesmo. Com os braços levantados, giram pela direita e dirigem-se ao lado oposto. Os cavalheiros vão para o lugar antes ocupado pelas damas. E vice-versa.
05. PRIMEIRAS MARCAS AO CENTRO: Antes do início da quadrilha, os pares são marcados pelo n° 1 ou n° 2. Ao comando "primeiras marcas ao centro", apenas os pares de n° 1 vão ao centro, cumprimentam-se, voltam, os outros fazem o "passo no lugar" . Estando no centro, ao ouvir o marcador pedir balanceio ou giro, executar com o par da fileira oposta. Ouvindo "aos seus lugares", os pares de n° 1 voltam à posição anterior. Ao comando de "segundas marcas ao centro", os pares de n° 2 fazem o mesmo.
6. GRANDE PASSEIO: As filas giram pela direita, se emendam em um grande círculo. Cada cavalheiro dá a mão direita à sua parceira. Os casais passeiam em um grande círculo, balançando os braços soltos para baixo, no rítmo da música.
07. TROCAR DE DAMA: Cavalheiros à frente, ao lado da dama seguinte. O comando é repetido até que cada cavalheiro tenha passado por todas as damas e retornado para a sua parceira.
08. TROCAR DE CAVALHEIRO: O mesmo procedimento. Cada dama vai passar por todos os cavalheiros até ficar ao lado do seu parceiro.
09. O TÚNEL: Os casais, de mãos dadas, vão andando em fila. O casal da frente para, levanta os braços, voltados para dentro, formando um arco. O segundo casal passa por baixo e levanta os braços em arco. O terceiro casal passa pelos dois e faz o mesmo. O procedimento se repete até que todos tenham passado pela ponte.
10. ANAVAN TUR: A dama e o cavalheiro dançam como no TUR. Após uma volta, a dama passa a dançar com o cavalheiro da frente. O comando é repetido até que cada dama tenha dançado com todos os cavalheiros e alcançado o seu parceiro.
11. CAMINHO DA ROÇA: Damas e cavalheiros formam uma só fila. Cada dama à frente do seu parceiro. Seguem na caminhada, braços livres, balançando. Fazem o BALANCÊ, andando sempre para a direita.
12. OLHA A COBRA! Damas e cavalheiros, que estavam andando para a direita, voltam-se e caminham em sentido contrário, evitando o perigo. Vários comandos são usados para este passo: "olha a chuva", "olha a inflação", "olha o assalto", "olha o ...(cita-se o nome de um político impopular na região). A fileira deve ir deslizando como uma cobra pelo chão.
13. É MENTIRA! Damas e cavalheiros voltam a caminhar para a direita. Já passou o perigo. Era alarme falso.
14. CARACOL: Damas e cavalheiros estão em uma única fileira. Ao ouvir o comando, o primeiro da fila começa a enrolar a fileira, como um caracol.
15. DESVIAR: É a palavra-chave para que o guia procure executar o caracol, ao contrário, até todos estarem em linha reta.
16. A GRANDE RODA: A fila é única agora, saindo do caracol. Forma-se uma roda que se movimenta, sempre de mãos dadas, à direita e à esquerda como for pedido. Neste passo, temos evoluções. Ouvindo "duas rodas", damas para o centro; as mulheres vão ao centro, dão as mãos. Na marcação "duas rodas", cavalheiros para dentro, acontece o inverso, as rodas obedecem ao comando, movimentando para a direita ou para a esquerda. Se o pedido for "damas à esquerda" e "cavalheiros à direita" ou vice-versa, uma roda se desloca em sentido contrário à outra, seguindo o comando.
17. COROAR DAMAS: Volta-se à formação inicial das duas rodas, ficando as damas ao centro. Os cavalheiros, de mãos dadas, erguem os braços sobre as cabeças das damas. Abaixam os braços, então, de mãos dadas, enlaçando as damas pela cintura. Nesta posição, se deslocam para o lado que o marcador pedir.
18. COROAR CAVALHEIROS: Os cavalheiros erguem os braços e, ao abaixar, soltam as mãos. Passam a manter os braços balançando, junto ao corpo. São as damas agora, que erguem os braços, de mãos dadas, sobre a cabeça dos cavalheiros. Abaixam os braços, com as mãos dadas, enlaçando os cavalheiros pela cintura. Se deslocam para o lado que o marcador pedir.
19. DUAS RODAS: As damas levantam os braços, abaixando em seguida. Continuam de mãos dadas, sem enlaçar os cavalheiros, mantendo a roda. A roda dos cavalheiros é também mantida. São novamente duas rodas, movimentando, os duos, no mesmo sentido ou não, segundo o comando. Até a contra-ordem!
20. REFORMAR A GRANDE RODA: Os cavalheiros caminham de costas, se colocando entre as damas. Todos se dão as mãos. A roda gira para a direita ou para a esquerda, segundo o comando.
21. DESPEDIDA: De um ponto escolhido da roda os pares se formam novamente, Em fila, saem no GALOPE, acenando para o público. A quadrilha está terminada. Nas festas juninas mineiras, paranaenses e paulistas, após o encerramento da quadrilha, os músicos continuam tocando e o espaço é liberado para os casais que queiram dançar.
Sobre São João Batista: João Batista (Judeia, 2 a.C. - 27 d.C.) foi um pregador judeu, do início do século I, citado pelo historiador Flávio Josefo e os autores dos quatro Evangelhos da Bíblia. Segundo a narração do Evangelho de São Lucas, João Batista era filho do sacerdote Zacarias e Isabel (ou Elizabete), prima de Maria, mãe de Jesus. Foi profeta e considerado pelos cristãos como o precursor do prometido Messias, Jesus Cristo. Batizou muitos judeus, incluindo Jesus, no Rio Jordão, e introduziu o batismo de gentios nos rituais de conversão judaicos, que mais tarde foram adotados pelo cristianismo. O aprisionamento de João ocorreu na Pereia, a mando do Rei Herodes Antipas I no 6º mês do ano 26 d.C. Ele foi levado para a fortaleza de Macaeros (Maqueronte), onde foi mantido por dez meses até ao dia de sua morte. O motivo desse aprisionamento apontava para a liderança de uma revolução. Herodias, por intermédio de sua filha, conseguiu coagir o Rei na morte de João, e a sua cabeça foi-lhe entregue numa bandeja de prata e depois foi queimado em uma fogueira numa das festas palacianas de Herodes. Os discípulos de João trataram do sepultamento do seu corpo e de anunciar a sua morte ao seu primo Jesus. Fonte: Wikipedia.
A seguir um resumo sobre as características da festa.

Um santo muito comemorado no mês de junho é São João. Esse santo é o responsável pelo título de “santo festeiro”, por isso, no dia 24 de junho, dia do seu nascimento, as festas são recheadas de muita dança, em especial o forró. No Nordeste do País, existem muitas festas em homenagem a São João, que também é conhecido como protetor dos casados e enfermos, principalmente no que se refere a dores de cabeça e de garganta. Alguns símbolos são conhecidos por remeterem ao nascimento de São João, como a fogueira, o mastro, os fogos, a capelinha, a palha e o manjericão.
Existe uma lenda que diz que os fogos de artifício soltados no dia 24 são “para acordar São João”. A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia, pois, se ficasse acordado vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem, não resistiria e desceria à terra. As fogueiras dedicadas a esse santo têm forma de uma pirâmide com a base arredondada.
O levantamento do mastro de São João se dá no anoitecer da véspera do dia 24 de junho. O mastro, composto por uma madeira resistente, roliça, uniforme e lisa, carrega uma bandeira que pode ter dois formatos, em triângulo com a imagem dos três santos, São João, Santo Antônio e São Pedro; ou em forma de caixa, com apenas a figura de São João do carneirinho. A bandeira é colocada no topo do mastro. O responsável pelo mastro, que é chamado de “capitão” deve, juntamente com o “alferes da bandeira”, responsável pela mesma, sair da véspera do dia em direção ao local onde será levantado o mastro. Contra a tradição que a bandeira deve ser colocada por uma criança que lembre as feições do santo. O levantamento é acompanhado pelos devotos e por um padre que realiza as orações e benze o mastro. Uma outra tradição muito comum é a lavagem do santo, que é feita por seu padrinho, pessoa que está pagando por alguma graça alcançada. A lavagem geralmente é feita à meia-noite da véspera do dia 24 em um rio, riacho, lagoa ou córrego. O padrinho recebe da madrinha a imagem do santo e lava-o com uma cuia, caneca ou concha. Depois da lavagem, o padrinho entrega a imagem à madrinha que a seca com uma toalha de linho. Durante a lavagem é comum lavar os pés, rosto e mãos dos santos com o intuito de proteção, porém, diz a tradição que se alguma pessoa olhar a imagem de São João refletida na água iluminada pelas velas da procissão, não estará vivo para a procissão do ano seguinte.
Fonte: brasilcultura.com.br